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HISTÓRIA | CASA

O casarão situado na Rua Duque de Caxias 973, Centro Histórico de Porto Alegre, já foi residência, repartição pública, ruína e agora museu de artes. No entanto, é mais, muito mais: é a síntese de desejos de artistas, gestores, defensores do patrimônio cultural e de uma infinidade de pessoas que se comoveram com o destino que parecia inexorável rumo à destruição. O casarão passou agora a ter um novo caráter reflexivo, significando o bom combate pela preservação e divulgação das artes na cidade de Porto Alegre.

No entanto, é necessário contar um pouco da trajetória desta edificação, que parece ter encontrado um destino feliz e importante por abrigar uma valiosa coleção de artes que por muito tempo procurou uma sede adequada que lhe proporcionasse abrigo.

Assim cabe relatar com brevidade a trajetória e as transformações sofridas pela casa ao longo dos anos. A primeira datação do prédio remonta a antes de 1893, quando do primeiro registro de proprietários. Naquela ocasião a casa assobradada com quatro janelas e porta de frente se mostrava como um exemplar de arquitetura luso-brasileira ou colonial. Seus proprietários, de 1893 a 1916, segundo Livro de Imposto Predial, foram os herdeiros de Joaquim Silva Guerra.

Em 1916 a Casa é vendida a Julieta Santayana Saibro Pinto, casada com Ariosto Pinto. A residência permanecerá com esta função residencial e na propriedade do casal até 1956. Estes novos proprietários contratam junto à firma Menezes e Bonotto Constructores o projeto de “reconstrução da fachada”. Trata-se da mesma que o edifício apresenta hoje e que foi efetivamente implantada em 1917.

Com o tratamento especial dado a fachada que vem a ficar ricamente ornamentada privilegiando elementos do ecletismo residencial tais como o uso de ordens arquitetônicas, decorações fitomórficas e utilização de elementos ornamentais em ferro e gesso, o casarão passa a figurar entre as residências de estilo eclético que marcaram a paisagem dos bairros habitados pela elite porto-alegrense das primeiras décadas do século XX.

Entre os anos de 30 a 50 foi a residência da família Bezerra que o alugou dos Saibro Pinto. Em 1956, Ariosto Pinto vende o imóvel à União Federal que passa a ocupá-lo na função de cartório eleitoral, até que em 1990 o prédio é entregue ao Ministério do Exército ficando sob a responsabilidade da 3ª Região Militar.

Em 1992 a edificação passa a receber a proteção efetiva do poder público municipal passando a fazer parte da listagem das unidades residenciais de interesse sócio-cultural com vistas à preservação, atitude que marcou um posicionamento frente à ameaça de uma provável demolição, conforme era interesse da própria União, representada pela Comissão Regional de Obras do Exército, 3ª Região, proprietária do imóvel.

Em continuidade a expressão da trajetória de nossa biografada, é importante que se diga que contribuiu para selar o seu recente destino, o profundo desejo existente por parte das administrações da capital desde os anos 1990, de contar com um museu de artes municipal e com um prédio especialmente destinado para este fim.

A realização de tal desejo começou a tomar forma com a adesão de Porto Alegre ao Programa Monumenta, iniciativa federal de qualificação urbana de centros históricos, efetivada a partir de 2001. Este programa trouxe a oportunidade de se abrirem negociações com o setor que administra o patrimônio da União no sentido de transferir a posse do “Casarão da Duque” para a Prefeitura visando a restauração de um prédio destinado especialmente a abrigar a Pinacoteca Ruben Berta. A partir desta decisão foi elaborado o projeto de restauração pelas arquitetas da EPAHC – Equipe do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, Ana Margarida Xavier e Rosilene Possamai.

No ano de 2012 o prédio foi tombado pelo poder público municipal passando a contar com o nível mais alto de proteção, o que lhe garante a permanência na paisagem cultural do Centro Histórico. O ato de proteger a antiga residência da possibilidade de desaparecimento não deve ser pensado como atividade apenas formal e exterior às práticas sociais. Ao tornar a casa um monumento, a mesma adquire uma função simbólica, pois os monumentos na medida em que surpreendem nosso olhar passam também a ser testemunhas dos sistemas mentais da época em que foram criados.

Assim, no papel de edificação histórica o prédio passa por um processo de restauração entre os anos de 2005 a 2013 que vem a recuperar sua antiga unidade material (neste período era já uma ruína) voltando a exibir fachada e volumetria. Esta intervenção é responsável por fazer com que o casarão recupere o sentido de “lugar”, voltando a ter vida e passe a ter uma nova função em sua trajetória que passa ser a de guardar e comunicar as obras da Pinacoteca Ruben Berta.

Em outras palavras, assim como acontece nas biografias pessoais onde os fatos, as conjunturas sociais afetam e nos mudam a percepção sobre as coisas e, mais importante, passam a moldar a imagem que as demais pessoas ou grupos sociais passam a fazer sobre nós, também a casa na sua trajetória passou por mudanças, não apenas estéticas ou de função, mas, sobretudo nos significados que passou a ter para a sociedade.

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