Exercícios de convivência
“Exercícios de convivência” parte de uma premissa simples, que se descortina em algumas complexidades. Nasce da reflexão sobre possibilidades, dificuldades e potencialidades de coabitarmos espaços hoje. Portanto, de nos relacionarmos uns com os outros e com o mundo ao nosso redor.
Tomando como ponto de partida o prédio da prefeitura de Porto Alegre, símbolo do poder político municipal, que compartilha parte de seu espaço físico com as galerias onde a exposição ocorre, o projeto busca aproximações entre os modos de vida e as regras próprias a cada um destes espaços. Este coabitar, um tanto quanto inusitado, para não dizer pouco usual, estabelece idiossincrasias que tensionam as rotinas administrativas, por um lado, e o lugar da liberdade artística, por outro.
Mais do que um discurso afirmativo sobre as diferentes manifestações de convívio, esta exposição aposta na fluidez de relações dispersas entre as obras, propondo exercícios de abertura ao sensível. A partir de gestos artísticos que sugerem perspectivas de convivência em materializações diversas, são reunidas no Porão do Paço Municipal obras de Cláudia Hamerski, Daniel Escobar, Diego Passos e Juliano Ventura, Elaine Tedesco, Glaucis de Morais, Guilherme Dable, Letícia Lopes e Rommulo Vieira Conceição. Realizados em diferentes temporalidades, mídias e contextos, abordando distintas noções de convívio, os trabalhos são justapostos em estado de exposição, delineando-se como um exercício de convivência em si mesmo.
Para além do espaço expositivo, este projeto também almeja refletir sobre processos de convivência no espaço público, extrapolando as paredes do prédio. Três artistas foram convidados, a partir das particularidades de suas poéticas, a criar obras que habitassem os arredores do Paço Municipal. Assim, a rua, lugar comum a muitos, surge - através dos trabalhos de Carla Borba, Marcelo Monteiro e Xadalu - como um espaço marcado pela tônica da passagem e do desencontro. Ao mobilizar suas proposições, a intenção é proporcionar, seja nas interferências na paisagem urbana ou em ações pontuais, situações de fruição e participação a um público passante, espontâneo e não especializado.
Que possamos, através da arte, cruzar fronteiras, limites e diminuir a distância que nos separa física e metaforicamente uns dos outros. Que essas noções de dentro e fora, que tantas vezes nos remetem a exclusões, ao que difere, ou aquilo que não cabe em algumas definições, seja uma chave de acesso a estes universos poéticos, potentes em suas individualidades e complexos em suas interações e possibilidades de convivência.
Bruna Fetter, curadora
Professora e pesquisadora / IA-UFRGS