Francis Pelichek
Um Boêmio Moderno em Porto Alegre
Exposição que inaugura no dia 14 de maio de 2022, na Pinacoteca Aldo Locatelli,
assinala o centenário da chegada do artista tcheco a Porto Alegre
“Quando se trata de homens como Pelichek, o que interessa, acima de tudo, é a vida do homem”. Assim escreveu o jornalista Carlos Reverbel na Revista do Globo, em edição de novembro de 1941, recordando o carismático artista, falecido em 1937. Exageros à parte, o fato é que a obra de Francis Pelichek (Kutná Hora, República Tcheca, 1896 – Porto Alegre, 1937) é indissociável de sua invulgar trajetória pessoal, iniciada na antiga Tchecoslováquia e concluída em Porto Alegre, onde se fixou em 1922. Ambas são marcadas por destemor, jocosidade, erotismo e, sobretudo, por um olhar sensível e atento às pessoas e aos seus entornos.
Ao cruzar o Atlântico, em 1920, Pelichek tinha 24 anos e a Boêmia na qual crescera já não era mais a mesma. Aliás, a Europa já não era mais a mesma. Quatro impérios haviam desaparecido com o término da I Grande Guerra, dentre os quais o Austro-Húngaro, do qual despontou, em 1918, seu jovem país. Lá, ele trabalhara não apenas como desenhista, pintor e ilustrador para a imprensa, mas como ator de teatro, cabaré e cinema, em diálogo com diversas expressões e modernas tecnologias da imagem, das relacionadas ao universo gráfico, passando pela fotografia e o cinema. Era companheiro do famoso cabaretista Karel Hašler, cujas capas de canções e partituras ilustrou, e do ator e diretor de cinema Gustav Machatý, com quem contracenou em Dáma s malou nožkou (1919). Enquanto terminava a rodagem do filme, ele também se preparava para sua maior aventura: o Brasil.
Sua primeira parada foi o Rio de Janeiro. A estadia na então capital federal foi marcada por dificuldades financeiras, a adaptação ao clima, à língua e aos costumes, as incertezas e até mesmo a fome. Seguindo rumo ao Sul, Pelichek encontra, no Paraná, patrícios tchecos, junto aos quais se sente mais amparado. Seu trabalho como artista, no entanto, segue marcado pela precariedade. Isso só começa a mudar quando, por intervenção da viúva russa Katchanoff, ele é indicado para ser professor do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Instituído em 1908 por meio do Conservatório de Música e, a partir de 1910, da Escola de Artes, o IBA tinha um único professor efetivo de desenho e pintura: Libindo Ferrás. É com ele que Pelichek passa a dividir as atividades de ensino da incipiente instituição, ajudando a formar dezenas de artistas.
Em Porto Alegre, ele inaugura uma nova fase de sua vida e carreira: a de artista reconhecido, professor respeitado e desenhista de imprensa prolífico, o que nos permite identificá-lo como um dos principais nomes do campo artístico local naqueles idos.
No centenário da chegada de Francis Pelichek a Porto Alegre, é este trânsito entre obra e percurso pessoal, Europa Central e Brasil Sulino, tradição e modernidade, que a exposição apresenta, festejando a poética e a memória desse grande artista.
Além de assinalar os 100 anos da fixação do artista na cidade, a mostra se insere no calendário de atividades comemorativas aos 250 anos da capital. As representações em torno de Porto Alegre, aliás, são um dos eixos da exposição, que também vai apresentar paisagens, obras com temáticas regionalistas e tipos urbanos, além de todo um segmento calcado na relação do artista com as imagens técnicas: desenho para imprensa, fotografia e cinema ao longo dos anos 1920 e 1930.
Serão cerca de 60 trabalhos, entre desenhos, aquarelas, fotografias, pinturas e estudos, oriundos de coleções particulares e institucionais, dentre as quais: Fundacred, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Pinacoteca Aldo Locatelli e Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do Instituto de Artes da UFRGS. A mostra dará ênfase, igualmente, a desenhos provenientes dos diários do artista, escritos em tcheco e preservados no Arquivo Histórico do Instituto de Artes da UFRGS.
Francis Pelichek – Um boêmio moderno em Porto Alegre tem curadoria da ilustradora e pesquisadora Ana Luiza Koehler, que vem desenvolvendo investigação no âmbito de seu doutorado sobre a obra e a trajetória do artista, e da crítica e historiadora da arte Paula Ramos, professora do Instituto de Artes da UFRGS, que se dedica a estudos sobre modernismo no Brasil, com ênfase no Rio Grande do Sul.
SERVIÇO
Francis Pelichek – Um boêmio moderno em Porto Alegre
Curadoria: Ana Luiza Koehler e Paula Ramos
Quando
Abertura da exposição: 14 de maio de 2022, sábado, das 11h às 14h
Visitação: de 16 de maio a 15 de julho de 2022
Segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h
Informações
acervo@portoalegre.rs.gov.br | (51) 3289 3735
Onde
Pinacoteca Aldo Locatelli – Paço dos Açorianos
Praça Montevidéu, 10 – Centro Histórico – Porto Alegre
SOBRE AS CURADORAS
Ana Luiza Koehler (Porto Alegre, RS, 1977) é ilustradora e pesquisadora. Bacharel em Arquitetura e Urbanismo (2006) pela UFRGS, com Mestrado (2015) em Planejamento Urbano e Regional pelo Propur da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, quando desenvolveu pesquisa sobre a forma dos antigos becos de Porto Alegre antes do processo de modernização urbana. Tal investigação continua em curso, sendo divulgada por meio do blog www.becodorosario.com. Atualmente, é doutoranda em Artes Visuais – ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS.
Trabalha, desde os 16 anos, como ilustradora. Dedica-se à produção de histórias em quadrinhos, ao ensino de desenho e pintura e também à ilustração científica no campo da arqueologia. Entre seus trabalhos, destacam-se ilustrações arqueológicas para exposições no Brasil (12.000 anos: História e Arqueologia do Rio Grande do Sul) e na Alemanha (Römermuseum Osterburken, Wikinger Museum Haithabu, Welt der Kelten); os volumes 1 e 2 da história em quadrinhos Awrah, para as Éditions Daniel Maghen (França), o volume 2 da história em quadrinhos Carthage, e os volumes 1 e 2 da série Une Génération Française – Tome 3 – Zoé, para a Éditions Soleil (2011–2017).
Teve sua história em quadrinhos Beco do Rosário, sobre a modernização de Porto Alegre nos anos 1920, contemplada pelo programa Rumos do Itaú Cultural em 2018 e lançada pela Editora Veneta em 2020.
Na pesquisa, dedica-se aos estudos sobre os trânsitos da modernidade urbana e gráfica em Porto Alegre.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9232721768351288
Contato: agoulartkoehler@gmail.com
Paula Ramos (Caxias do Sul, RS, 1974) é crítica, historiadora da arte e curadora. Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (1996) pela UFRGS, com Mestrado (2002) e Doutorado (2007) em Artes Visuais, ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte, pela mesma IFES, ambos subsidiados com bolsa CNPq. Em 2005, realizou doutorado-sanduíche junto à Kassel Universität, na Alemanha, com bolsa CNPq/DAAD. No mesmo país, realizou seu Estágio Sênior (2018–2019; 2020–2021) com bolsa da Fundação Alexander von Humboldt.
É Professora Associada do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, onde implantou o Bacharelado em História da Arte, coordenando-o nos seus cinco primeiros anos (2010–2015). Atua nos cursos de História da Arte e Artes Visuais, bem como no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV/UFRGS).
Assina diversas curadorias em arte moderna e contemporânea, muitas das quais agraciadas com prêmios. É autora e organizadora de várias publicações no segmento de cultura e artes visuais, com destaque para A Madrugada da modernidade – 1926 (2006), A fotografia de Luiz Carlos Felizardo (2011), Walmor Corrêa – O estranho assimilado (2015) e Lenir de Miranda – Pintura périplo (2019). Também integrou a Comissão Editorial que organizou a publicação Pinacoteca Barão de Santo Ângelo – Catálogo Geral (1910–2014). Em 2016, publicou A modernidade impressa – Artistas ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre (2016), reunindo as pesquisas desenvolvidas durante seu Mestrado e Doutorado. O livro foi lançado com exposição homônima, realizada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Como um todo, o projeto A modernidade impressa recebeu oito prêmios em âmbito regional e nacional, incluindo o Prêmio Jabuti 2017, na categoria Arquitetura, Urbanismo, Artes e Fotografia.
Na pesquisa, dedica-se aos estudos sobre modernidade e as relações entre artes visuais, impressos e cultura visual, bem como a aspectos relacionados à memória e ao patrimônio artístico e cultural.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0683223879850775
Contato: paulavivianeramos@gmail.com
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Pinacoteca Aldo Locatelli
Paço dos Açorianos
Praça Montevidéu, 10
Centro Histórico - Porto Alegre
fone: [55] (51) 3289-3735
Segunda à sexta-feira
9h às 12h • 13h30 às 17h
AÇÕES EDUCATIVAS
AGENDAMENTOS
Visitas guiadas às exposições da Pinacoteca Aldo Locatelli podem ser agendadas:
[55] (51) 3289-3735
VISITA GUIADA
COLEÇÃO
A Associação das Pinacotecas de Porto Alegre – AAPIPA- foi fundada em 2016 por um pequeno número de cidadãos dispostos a uma tomada de ação efetiva em prol do desenvolvimento e difusão do circuito das artes na cidade de Porto Alegre. Seu engajamento se materializa no apoio as ações e projetos das Pinacotecas Ruben Berta e Aldo Locatelli da Secretaria da Cultura da capital gaúcha e da Pinacoteca Fundacred em vias de passar á administração municipal por comodato. A AAPIPA estimula por meio do trabalho de seus associados o exercício do voluntariado, e na medida que propõe e co-executa projetos e eventos de interesse das pinacotecas e da população cultiva o desenvolvimento do empreendedorismo cultural.
COMO
PARTICIPAR
DIRETORIA
PRESIDENTE
Heitor Luis Beninca Bergamini
VICE-PRESIDENTE
Sandra Marisa Esteve Echeverria